Entre os pacientes daquele dia, ele recebia o vidraceiro. Uma janela havia quebrado e aquela pausa foi necessária para manter o ambiente fechado.
Enquanto conversavam animadamente, o rapaz removia os restos de vidro quebrado, ainda na janela, com rapidez e com as próprias mãos, sem cuidado algum.
– João, cuidado pra não se cortar! – disse o dentista, um tanto quanto constrangido por parecer estar “ensinando o padre-nosso ao vigário”.
– Cortar?! – disse João. – Doutor, isso aqui é minha vida. Eu quebro o vidro, mas ele não me quebra!
Acabou de falar, pegou um pedaço grande de vidro, colocou na boca e CRASH! Mordeu e cuspiu na mão três pedaços de vidro partidos entre seus dentes.
Ossos do ofício. O dentista já tinha visto abrirem garrafas de cerveja nos dentes, rasgar plásticos duros, ossos de diferentes tamanhos. Mas vidro era a primeira vez.
Os dois riram, João acabou o serviço e se despediu.
O dentista só pedia para que ninguém mais tentasse fazer isso, ou teria muito trabalho para tratar tantos cortes pela boca. A habilidade de João não era nem um pouco recomendável.
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